1 Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração.
2 Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira?
3 Sabei, porém, que o SENHOR distingue para si o piedoso; o SENHOR me ouve quando eu clamo por ele.
4 Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai.
5 Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no SENHOR.
6 Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem? SENHOR, levanta sobre nós a luz do teu rosto.
7 Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho.
8 Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro.
Introdução
Os salmos possuem uma característica
de serem relatos das experiências vivenciadas pelos homens de Deus que os
escreveu. São relatos de orações, até mesmo os cânticos como este salmo 4 estão
baseados em experiências pessoais vivenciadas. Os salmos mostram o que eles
vivenciaram e são úteis a nós de uma forma diferente de textos normativos como
as epístolas por exemplo. Nas epístolas encontramos ordens divinas de como
devemos viver, proibições da parte do Senhor para nossas vidas, são portanto
textos normativos. Os salmos descrevem as experiências, e devemos refletir
nessas experiências relatadas para tirarmos para nossas vidas lições
práticas.
Elucidação
Este salmo 4 faz parte do conjunto
de salmos compostos por Davi quando ele estava em fuga de seu filho Absalão. Do
salmo 3 ao 6 Davi expressa seus sentimentos ao Senhor do que se passava
consigo. Lembremos que ele havia perdido um reino, estava em estado de humilhação,
fugindo não por ser covarde, mas para evitar mal maior, sendo perseguido pelo
próprio filho.
Davi, que foi chamado pela Bíblia de
o homem segundo o coração de Deus inicia este salmo pedindo ao Senhor misericórdia
de Sua parte (v. 1). Isso nos mostra que até o melhor dos santos ainda precisa apelar à
misericórdia e graça soberana de Deus. Somos totalmente dependentes de sua
graça, por mais fiel que sejamos não há em nós mérito algum.
Observemos neste salmo com ele
complementa o anterior, se antes ele disse: “Deito-me
e pego no sono” (Sl 3.5), agora ele diz: “Em paz me deito e logo pego no sono...” (v.8) indicando que está
até dormindo melhor, ou seja, mesmo a situação sendo tão difícil a paz que há
em seu coração continua a aumentar, pois é o Senhor quem concede essa paz.
Reflitamos, portanto, nesse texto sobre os sentimentos que reforçam o estado
íntimo de paz.
I – Sentimento de gratidão pelo que o Senhor já tem fez, v.
1.
Davi hora ao Senhor, não de qualquer
modo, não com palavras repetitivas, enfadonhas, monótonas, mas com grande
intensidade, uma expressão de toda a sua alma segundo o momento que ele estava
vivendo. Lembremos que a trajetória de Davi até chegar ao reino não foi nada
fácil. Foi perseguido por Saul, correndo grande perigo de morte, sendo
considerado um fugitivo. Ele vivenciou momentos de grandes angústias antes. Mas
o que ele diz em sua oração aqui? “Na angústia, me tens aliviado”. Ou seja,
essa não seria a primeira vez. A forma como Davi ora é de um modo a expressar
gratidão, pois reconhece o que o senhor já fez.
Devemos orar a Deus suplicando pelo
tempo presente sem nos esquecermos que Ele já respondeu as nossas orações
antes. Gratidão é uma das coisas mais agradáveis ao Senhor, embora seja uma das
mais difíceis a nós. Perceba como nós muitas vezes esquecemos dos livramentos
do Senhor em nossas vidas, como somos tão limitados que nos esquecermos que Ele
já fez tanto por nós. Isso ocorre porque estamos por demais preocupados com a
situação presente. Mas que nossa percepção embora seja realista quanto ao que
passamos no presente seja também de caráter retrospectivo em gratidão.
Davi continua se expressando com
sinceridade, e agora volta a sua atenção para os homens que o desprezaram, que
não respeitaram a sua dignidade enquanto rei de Israel.
II – Sentimento de indignação justa, v. 2-3.
Davi demonstra indignação para com
aqueles que se conformam com a mentira, que se deixam levar pela vaidade de
seus corações, que diante da impiedade dizem: “é assim mesmo!”. Ele coloca que
o Senhor não está impassível diante de tudo isso: “Sabei, porém, que o SENHOR
distingue para si o piedoso”. Esse termo “piedade” e seus derivados no Antigo
testamento tem o sentido de compaixão. No Novo Testamento a ideia predominante
é de devoção, de consagração ao Senhor em serviço. Mas aqui Davi está atacando
a atitude impiedosa daqueles homens que acreditaram nas mentiras de Absalão,
que estavam agindo com injustiça para com ele, que estavam se deixando levar
pela iniquidade.
Não apenas Davi, nós também vivemos
em um mundo cercado pela impiedade, mas á semelhança dele devemos lembrar que o
Senhor “distingue para si o piedoso”, e por isso vale a pena viver de modo
contrário ao pensamento dominante da sociedade. Vale a pena ser piedoso em um mundo
que faz chacota da piedade. Vale a pena ser piedoso em um mundo em que muitos
fazem da piedade motivo de lucro. Vale a pena ser piedoso da forma correta
pelos motivos corretos.
O verdadeiro crente deve sentir-se
indignado diante da impiedade, diante da injustiça, da crueldade, da
insensibilidade que tão sutilmente atinge os corações.
Penso que a mais justa das
indignações é quando vemos as pessoas atacarem a glória de Deus. Veja-se Cristo
expulsando os vendedores no templo (Mt 21.12-17; Mc 11.15-17; Lc 19.45-46).
Havia uma indignação santa, um zelo que não lhe dava uma outra alternativa
senão agir para defender o que foi consagrado ao Senhor, para combater a
religiosidade vazia e pueril dos fariseus.
É lícito que fiquemos indignados
diante de injustiças sofridas. Mas lembremos que a mais justa das indignações é
a que Cristo sentiu. Que a nossa indignação então não esteja meramente voltada
contra as pessoas que se nos opõem, ou contra situações que estejamos vivendo;
mas contra tudo aquilo deturpa a verdade do Senhor.
Mas em meio a tudo isso como é belo
notarmos a confiança de Davi no Senhor.
III – Sentimentos
de confiança no Senhor, v. 4-5.
Muito possivelmente a intenção de
Davi ao escrever essas palavras é de conter os seus partidários diante da
injustiça que todos estavam sofrendo por parte de Absalão e dos que apoiavam o
insubordinado. Davi tem muita cautela para que a ira santa e justa não se transforme
em injustiça. Sempre que vamos além do permitido pelo Senhor podemos está
incorrendo em injustiça em nossas ações, era esse o temos de Davi com relação
aos que lhe eram fieis.
A indignação justa não pode se tornar
injusta. É como Tiago declara em sua epístola no Capítulo 1 versículos 19 e 20:
“Sabei estas coisas, meus amados irmãos.
Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se
irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus”. Se nos deixarmos
dominar pela ira a confiança na ação divina estará deficiente.
Davi está dizendo
a eles que não é hora de extravasar a ira, é hora de examinar o coração, é hora
de sossegar e confiar no Senhor.
“Aquietem-se” é um
conselho bastante prático e útil, embora seja tão difícil de seguir
principalmente em uma sociedade que supervaloriza a atitude, a ação, o
agitamento. Que busquemos a graça do Senhor para nos aquietarmos. Quando
conseguimos manter uma relativa tranquilidade diante das dificuldades
conseguimos melhor perceber as opções de ação a serem tomadas, fazer uma análise
mais apurada do que está acontecendo e também percebermos melhor os nossos
pecados, até onde aquilo que estamos passando é consequência de nossos próprios
erros.
Pessoas muito impulsivas, pessoas
que sempre tentam enxergar suas razões deveriam de modo especial atender a essa
recomendação.
“Consultai no travesseiro o coração” (v. 4), nos traz a ideia de autoexame. Autoexame é uma das coisas mais difíceis de fazer. Mas pensemos: O que me motiva? Porque eu estou fazendo o que estou fazendo? É razoável a minha ira? Faça uma autoavaliação, e encontrando as respostas para perguntas que você se colocar lembre-se sempre: não combata o mal com o mal.
“Consultai no travesseiro o coração” (v. 4), nos traz a ideia de autoexame. Autoexame é uma das coisas mais difíceis de fazer. Mas pensemos: O que me motiva? Porque eu estou fazendo o que estou fazendo? É razoável a minha ira? Faça uma autoavaliação, e encontrando as respostas para perguntas que você se colocar lembre-se sempre: não combata o mal com o mal.
Davi agora volta
a sua atenção par o que os ímpios, os incrédulos estavam a dizer naquele
momento ao ver tudo o que lhe acontecia.
IV – Sentimento de esperança
no Senhor, v. 6.
A pergunta dos
ímpios exclui Deus: “Quem nos dará a
conhecer o bem?” A resposta de Davi inclui Deus: “Senhor levanta sobre nós o teu rosto”.
O versículo demonstra
desesperança daqueles que estão sem o Senhor, é a voz do mundo. A resposta
trazida por Davi é que o Senhor é essa esperança, a luz do Senhor é o conhecimento
do bem.
Davi não se contagia com o desespero dos outros. É terrível quando estamos em uma situação difícil e nos deparamos com pessoas que suas palavras em nada ajudam, apenas enfatizam ainda mais as dificuldades.
Davi não se contagia com o desespero dos outros. É terrível quando estamos em uma situação difícil e nos deparamos com pessoas que suas palavras em nada ajudam, apenas enfatizam ainda mais as dificuldades.
Às vezes até
mesmo cristãos diante de algo que passamos estará a dizer: não há nada a fazer.
Mas devemos lembrar que há um Deus pode fazer toda a diferença em qualquer situação.
É disso que Davi lembra. Servimos ao Deus de possibilidades infinitas.
À semelhança de Davi diante de
momentos de desesperança Jeremias declara que traz à memória não as
dificuldades, não as impossibilidades humanas, mas tudo aquilo que pode lhe dar
esperança. Observe lamentações 3.21-23:
21 Quero trazer
à memória o que me pode dar esperança.
22 As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim;
23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
Que a esperança seja renovada em seu coração a cada dia e a partir
daí possa usufruí da alegria em Cristo.
V – Sentimento de alegria, v. 7.
Que expressão maravilhosa de fé da
parte de Davi. Ele reconhece que de fato eles, seus inimigos de fato
experimentam um pouco de alegria. Mas ele está contrastado aqui as alegrias deles
coma alegria qualitativamente superior que ele sentia. A alegria deles diz Davi
está baseada na fartura. Enquanto a sua era uma dádiva graciosa e maravilhosa
do Senhor que o capacitava a superara aquela circunstância por ele vivida. Era
Davi dizendo: eu tenho mais alegria do que eles, mesmo dormindo ao relento,
mesmo sem conforto, mesmo sendo vítima de perdas e traições.
Para
nós está aqui o contraste da alegria do mundo e a alegria do cristão.
Essa
deve ser nossa meta. O Senhor deve ser a nossa fonte de alegria, mais do que
qualquer coisa que possamos ter. A alegria que se baseia naquilo que se pode
ter é enganosa porque se acaba assim que se perde aquilo que se tem. Mas a
alegria que se baseia naquilo que somos em Cristo permanece mesmo quando não
temos tudo o que gostaríamos de ter.
O tempo da
alegria deve ser o presente. Seja qual for a nossa situação presente, temos
Cristo e ele é a fonte de toda a alegria para nossas vidas.
Podemos dizer até que a expressão de
Davi demonstra um alto nível de santificação. Que o mesmo possa estar se dando
conosco!
Conclusão
Aprendemos com Davi neste Salmo que
é possível reforçar diariamente a paz que nós já experimentamos por ter
colocado em Deus nossa confiança. E o que podemos fazer para reforçarmos essa
paz?
1. Orar a Deus com intensidade,
mas sempre lembrando o que Ele já fez.
2. Indignar-se diante da
situação da humanidade cada vez pior, mas proclamar a verdade do evangelho.
Pois diante da pergunta: quem nos dará a conhecer o bem? Nós temos a resposta.
3. Não deixar a
indignação tomar conta do nosso coração a ponto de devolver o mal com o mal,
mas se autoanalisar e sossegar em Deus.
4. Não se deixar
contagiar pelo desespero reinante ao nosso redor, mas confiar nas promessas do
Senhor.
5. Entender o que é e de
onde vem a verdadeira alegria que nos mantém firmes em qualquer situação.
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