Marcos 12.13-17



Marcos 12.13-17

Introdução

            Os eventos desse texto se dão em um momento de aproximação da famosa festa da Páscoa dos Judeus. A Festa da Páscoa celebrava a libertação da escravidão do Egito. E lembremos que na época de Jesus o povo judeu estava sob domínio romano. Portanto, havia uma tensão: celebrar uma festa que lembra libertação estando em uma situação de opressão. O povo facilmente poderia ser incitado a uma revolta se houvesse um líder capaz para liderá-lo. As autoridades judaicas do Sinédrio, que era o grupo formado por representantes dos sacerdotes, fariseus e saduceus e que eram responsáveis pelas decisões religiosas em Jerussalém, se eoncontravam bastante preocupadas. Jesus lhes incomodava bastante, e estavam montando estratégias para prendê-lo tirando-o então de ação. Se Jesus fosse flagrado em desobediência à autoridade do templo então as autoridades judaica ordenariam os soldados responsáveis por manter a ordem do Templo prendê-lo. Enviam então uma comitiva composta por fariseus e herodianos.
           FARISEUS - grupo religioso que se desenvolveu durante o período Macabeu. Eles eram os ‘separatistas’, um grande foco na separação e pureza – adoravam as tradições orais.



           HERODIANOS - Era um grupo de pessoas que apoiava o reinado de Herodes Antipas. Eram comparados com os saduceus, pois a preocupação deles era muito mais política do que religiosa.

            Esses dois grupos se odiavam. Os fariseus eram totalmente contra as ideias dos herodianos. Esses dois grupos eram contrários em suas crenças: Os fariseus eram legalistas, muito religiosos, preocupados com a Lei de Deus, queriam honrar à Deus, resistiam ao governo. Os herodianos eram sincretistas, pouco religiosos, preocupados com a lei de Roma, queriam honrar à César e colaboravam com governo.

            E os fariseus eram as pessoas mais capacitadas para apanhar Jesus em alguma ofensa ao Templo e à lei mosaica. Os herodianos estavam sempre alerta a quaquer sinal de sublevação contra as autoridades romanas. Portanto, se notassem isso em Jesus o denunciariam e ele seria preso pelos romanos.

             Então, a comissão enviada a Jesus era composta por esses dois grupos, que tinham a missão de apanhá-lo em alguma falta.




Jesus e a questão do tributo



I - A astúcia dos interrogadores de Jesus, v. 13 e 14.
            Os fariseus e herodianos, que não tinham boas relações, se unem para tentar encontrar motivo de acusar Jesus. Utilizam de uma astúcia demoníaca. Primeiramente elogia-o, de forma sincera ou não, mas sabiam com certeza que Jesus de fato era mestre e que ensinava com autoridade. A pergunta que eles fazem a Jesus é de difícil solução. Tem-se em vista a questão da legalidade do tributo pago pelos judeus ao romanos. Mas o problema para os judeus ia além da questão da legalidade civil, quando eles perguntam se é lícito pagar tributo a César ou não estão interrogando sobre se é lícito à lei de Moisés. A questão desse tributo já havia causado muitos problemas. Muitos judeus eram inconformados com essa situação. Em 6 d.C., judeus liderados por Judas Galileu fizeram oposição à política imperialista romana baseando-se em duas teses: a) reconhecer exclusivamente o reino de Deus e a nenhum outro governante. b) E declarava que o ser humano deveria colaborar na implantação do reino de Deus. Para tanto, exigia a recusa do pagamento de impostos a Roma. Sua ideologia surge novamente em 44 d.C. segundo as informações de Atos 5.36-37. Essa questão importava de modo especial ao herodianos.

            Leonhard Goppelt, em teologia do Novo Testamento, afirma: "Jesus condena esse caminho, (não pagar o imposto a César) ao eliminar as suas premissas. Sua resposta parte da moeda que, na época, possibilita o comércio. Com isso ele ignora a posição teocrática de Israel bem como sua lei e aponta para a vontade de Deus como senhor da história, o qual se manifesta através da situação. Quem tem direito de cunhar moedas, é rei, e Deus é quem, segundo Dn. 2.21, instala e remove reis." (GOLLPELT, p. 140).

Algumas perguntas práticas com base nesse texto podem ser formuladas para nós hoje. Como o cristão deve se relacionar o com a lei e com o Estado? Até onde deve ir a obediência civil por parte do cristão?

            Rm 13.1-7 - Paulo aprofunda a questão afirmando que o cristão deve se submeter às leis estabelecidas, desse modo sendo submissos aos representantes do estado. Paulo está dentro de uma tradição bíblica que afirma que Yavé é soberano e dar o reino a quem quer (Dn 4.17, 25, 32), logo, por seu intermédio governa as nações (Pv 8.15s). Portanto, a relação do cristão com o Estado deve ser de obediência. E Paulo enumera três razões como podem ser vistas nos versículos 1 e 2: "Todo homem esteja sujeito ás autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação". Portanto:

1. Não há autoridade que não venha de Deus (1b).

2. As autoridades que existem foram por ele estabelecidas (1c).

3. Consequentemente, aquele que está se colocando contra autoridade está se rebelando contra o Deus que a instituiu (2a).

            Mas o que tudo isso significa de fato? Estaria Paulo afirmando que o cristão deve se conformar sem nenhum critério de julgamento a cerca da situação social? E se tais autoridades forem governos autoritários e criminosos? A resposta para isto é: nós devemos nos submeter até o exato momento em que essa submissão não implica desobediência à Deus. Vale aqui a máxima expressa pelo apóstolo Pedro quando lembrado pelo sumo sacerdote de que os discípulos estavam proibidos de pregar os evangelho: "Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29). Quando se promulgam leis contrárias à lei de Deus o dever cristão é a desobediência civil. Há textos bíblicos que exemplificam esse princípio (At. 5.29; Ex 1.17; Dn 3 e 6; At 4.18s).

            Ademais, também em romanos 13 é declarado que as autoridades existem para o nosso bem, quando praticamos o bem, pois ela é ministro de Deus (v. 4 DIAKONOS). As autoridades estão, portanto, a serviço de Deus (v.6). Quando o estado castiga um malfeitor está sendo instrumento do Senhor para o exercício de sua ira (v.4).

            O texto ainda nos mostra como Jesus foi sábio diante de uma situação tão delicada.




II - A maravilhosa sabedoria de Jesus, 15 e 16.
            Normalmente quando observamos a resposta de Jesus apenas percebemos a relação com o dever civil de cumprir com a lei. Mas na verdade Jesus está indo além dessa ideia. Temos que entender o que Jesus está falando de acordo com a mentalidade judaica de então. Jesus solicita uma moeda, e na moeda que lhe é entregue ele interroga sobre a imagem que nela está. Em sua sabedoria Jesus com essa pergunta ataca os dois grupos que lhe interrogam ao mesmo tempo. Os fariseus foram obrigados a admitir que estavam apegados ao denário. Aquela moeda era cunhada por ordem do imperador romano e para os judeus tinham um sentido de humilhação, principalmente porque apenas com ela se pagava esse imposto. Havia gravada na moeda a imagem de César, isto era uma provocação e ofensa ao segundo Mandamento: "Não farás para ti imagem de escultura, nem de semelhança alguma do que há em cima nos céus nem debaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra" (Ex 20.4). Contra eles Jesus combate sua hipocrisia de conhecer a lei de Moisés na qual explicitamente condena a utilização de qualquer imagem (para o propósito de culto, no entanto os judeus sempre mantiveram a proibição em seus custumes de modo mais abrangente), e agora iam contra o que ensinavam utilizando o polêmico denário tranquilamente. Havia até um ditado que se dizia que um religioso "durante toda sua vida nunca olhou uma moeda". Evidentemente que eles não poderiam evitar o uso de tal moeda, mas é o conformismo deles que Jesus ataca de modo indireto. Se conformavam com o que era ímpio apenas para salvaguardar seus interesses.

            Será que às vezes estamos fazendo o mesmo? Será que nos conformamos com o que é errado quando os nossos interesses estão em jogo?

            A hipocrisia que Jesus percebe neles também diz respeito às suas intenções. Foram até ele maliciosamente se fazendo de justos como diz no relato paralelo de Lucas 20:20-21. Com palavras elogiosas reconhecendo que Jesus não se importava de falar a verdade a quem quer que seja (esse é o sentido da expressão "porque não olhas a aparência dos homens" no v. 14), mas em todo esse reconhecimento havia a intenção maligna de apanhar Jesus em algum erro. Essa é a marca de um hipócrita – alguém que se finge de justo! Finge que se importa com as coisas de Deus. Finge que se importa com a santidade de Deus. Finge que se importa com as pessoas. Mas na verdade ele só se importa consigo mesmo.



            Por fim a grandiosa resposta de Jesus.




III - A magnífica resposta de Jesus, 17.
            Jesus concorda com o pagamento do imposto. Dai a César, ou devolvei a César o que é dele. A resposta de Jesus vai além do imposto, o sentido realmente é de reconhecerem César como seu legítimo governante, por mais que isso desagradasse a muitos, principalmente aos zelotes, que era um grupo radical que não aceitava o domínio romano e frequentemente utilizava de assassinatos. Mas Jesus concorda que os judeus reconheçam a legalidade do domínio romano. Mas a afirmação também é restritiva: devolvam a ele apenas o que é dele, aquilo exigido por ele que não lhe fosse devido não deveria ser dado.

            Jesus vai além do que lhe é perguntado, ele diz que deveriam dar à Deus o que é de Deus. E o que é de Deus? Os fariseus tinham mais de 600 regras religiosas acrescentadas aos mandamentos bíblicos, e entendiam que em todas essas normas cerimoniais e éticas de "faça isso e não faça aquilo" estavam dando à Deus o lhe era devido. Estavam enganados. Em sua soberba não queriam depender da graça divina. Dar à Deus o que é de Deus é reconhecê-lo em sua condição de Deus. Crer em seu amor, seguir seu Filho, confessar suas maldades, arrepender-se, não confiar em suas própria justiça, adorá-lo em Sua Santidade.

            Você tem dado à Deus que é de Deus? Sua vida é o que ele exige de você? Se você já vive em Cristo, santidade, obediência é o que exige de você.




Aplicação

1. Podemos ainda observar nesse texto dois grupos que eram tão opostos se uniram contra Jesus. Podemos dizer que essa é uma marca da batalha de Satanás contra a verdade de Deus – na busca para destruir a verdade, Satanás junta grupos que são contrários uns aos outros para perseguir e abolir a verdade!



            Muitas vezes pessoas de religiões diferentes se juntam para criticar a verdade da Palavra de Deus, para perseguir a igreja do Senhor, para confrontar os cristãos.

            Não se engane meu irmão(a) o mundo não seu amigo, é seu inimigo!

2. Há muitas pessoas nas igrejas, que se dizem cristãs, mas que se comportam da mesma forma que os fariseus e os herodianos – falam coisas belas sobre Jesus, sobre Deus, mas o coração está longe do Senhor, sempre há um interesse por trás das palavras. O que Jesus disse para aquelas pessoas em sua época vale para muitos hoje: "Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim". (Mc 7.6).



3. Se você ainda não deu à Deus o que lhe pertence, não deixe passar essa oportunidade. Ele te deu a vida, e não menos do que isso é o que Ele exige de você. Comprometa-se com Cristo hoje! Entregue sua vida em oferta a Ele hoje!




Conclusão
            Finalmente meus irmãos, não esqueçamos de dar o que é devido a cada um: "Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra". (Romanos 13:7).



Soli Deo Gloriae!


 

(Sermão pregado no templo Sede da Igreja Batista dos Guararapes no Culto Solene de domingo dia 29 de dezembro de 2013).

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