Atos 2.43 – A IGREJA QUE QUEREMOS SER (parte 2)



 Introdução

A igreja de Jerusalém mostra-se exemplo para a igreja dos nossos dias, era composta por pessoas tementes a Deus. Naquele momento inicial da história da igreja cristã houve muitos milagres. Duas perguntas básicas podem ser feitas a partir do v. 43 acerca da igreja de nossos dias: Como se encontra o temor nos corações dos cristãos? E por que não vemos milagres como naqueles dias? Não são perguntas fáceis de responder, contudo, buscaremos na graça do SENHOR refletir a respeito.


UMA IGREJA TEMENTE AO SENHOR E QUE REALIZA MARAVILHAS


I – O QUE É TEMER AO SENHOR?

Vivemos uma época em que as pessoas pensam a comunhão com o Senhor mais em um aspecto de proximidade e amizade do que de solenidade. Solenidade é o sentimento de respeito santo por algo ou alguém. Mas falta nos crentes esse temor santo. Temor não é medo no sentido de pavor diante de algo horrendo. Mas “medo” no sentido de reverência diante daquilo que é santo. Assim temer ao Senhor pode implicar para nós algumas posturas básicas:

a) Levar a sério o pecado.

Algumas pessoas atualmente parecem não considerar a malignidade do pecado, agem mais pelo o que lhes é conveniente ou não. No final das contas, agem não baseados no fato de suas ações serem agradáveis a Deus ou pecaminosas, mas baseados no que lhes fará se sentir bem ou não. O pecado é maligno em todas as suas expressões, não pode ser visto de outra forma, mesmo aqueles que não causam necessariamente escândalo social. O temor ao Senhor nos leva a afastar-se do pecado.

b) Não considerar o sagrado como profano.

Há algumas pessoas que não querem ver diferença entre sagrado e profano. Dizem que tudo é a mesma coisa. Sagrado aqui é tudo aquilo que foi separado para o uso do serviço santo ao Senhor. Profano em contrapartida tudo o que é comum, não separado para o serviço ao Senhor. Na verdade há espaços que são sagrados, há momentos que são sagrados, revestidos de um significado espiritual especial. Deturpá-los é um desprezo ao Senhor. Como exemplo citemos o uso dos templos de forma distorcida por alguns.
           O uso das igrejas para a promoção de: CDs, livros, shows de música, venda de diversos tipos de Bíblia, venda de óleos para unção, venda de água que liberta, pedaço de pano que cura... está sob a direta condenação trazida por Jesus. Aqui temos o clássico exemplo de Jesus purificando o templo em Marcos 11.15-19. E a Palavra nos diz acerca daquele templo: "Porque escolhi e santifiquei esta casa, para que nela esteja o meu nome perpetuamente; nela, estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias" (2 Cr 7.16).
“Qualquer igreja ou ministério que tenta tirar vantagem da presença de Deus para ter lucros e construir um império financeiro está sob o julgamento de Jesus” (Zondervan Illustrated Bible Background Commentary – Mark, pg.271).

c) Não escarnecer do Senhor.

Gálatas 6.7 nos adverte com relação às consequências de nossas ações: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”. O sentido é que quem vive na prática do mal não há como colher coisas boas, esperar isso seria como desconsiderar a justiça divina assim como a ordem natural de sua providência. É a chamada lei da semeadura, ou como é dito na filosofia, a lei da causa e efeito. O temor ao Senhor nos leva a considerar as consequências de nossas ações.

Além de ser tementes ao Senhor podemos e devemos viver sendo usados por Ele para o louvor da sua glória.


II – O QUE É REALIZAR MARAVILHAS?

As expressões “prodígios” e “sinais” tem o mesmo sentido, apontam para milagres realizados por intermédio dos apóstolos. Há de se observar a razão específica historicamente justificada para que naquela época houvesse uma ação incomum do Espírito Santo na realização constante de milagres, trata-se da necessidade dos mesmos para ratificação de que a mensagem do evangelho era mensagem do Deus Todo Poderoso. Diante disso e do contexto dos nossos dias surgem duas perguntas fundamentais:

a) Há a necessidade de haver muitos milagres em nossos dias?

Penso que em cada época Deus em sua soberania e sabedoria age da melhor forma necessária. Isto significa que se Ele não realiza muitos milagres no contexto das igrejas de nossos dias é porque também não há essa necessidade implícita no que tange ao avanço do evangelho. Apenas pensar o aspecto da fé por parte das pessoas não responde à questão de forma satisfatória.
Observemos o texto de Marcos 16.14-18. Duas observações não podem ser negligenciadas neste texto a respeito dos milagres mencionados por ele: primeiramente está presente a condição da fé, não meramente de uma fé miraculosa, embora obviamente seja necessária, mas a referência é à fé salvadora. A todos os que creem na mensagem do evangelho, se comprometerem com Cristo, forem, por conseguinte, batizados estarão sendo usados por Deus na realização de maravilhas, dos sinais ou milagres. A segunda observação é que a concessão deste poder que o Espírito Santo operará é para o objetivo específico da proclamação do evangelho, não está aqui uma promessa de milagre meramente pelo milagre, mas para confirmar a mensagem como sendo divina. Os sinais hão de acompanhar aqueles que creem e estão indo.
           Queremos neste escopo recusar dois extremos: o primeiro daqueles que embora estejam bem intencionados afirmam que não há milagres hoje, por conta de o evangelho já está bem difundido, e, de acordo com o texto, segundo estes, a promessa era só para os primeiros tempos da igreja. Outro extremo que deve ser recusado é daqueles que entendem que a coisa mais importante é pessoas serem curadas de suas moléstias, e para esses não importa se tais pessoas serão salvas ou não. Estes últimos fazem seus shows com supostos milagres, mas não pregam o evangelho de Cristo.
           Com qual posição então podemos ficar? Deus é soberano e pode sim realizar milagres dentro de seus propósitos soberanos. Mas não está sujeito às nossas vaidades de marcarmos dia e hora para que ele opere milagres. Ademais, devemos admitir que já não há mais necessidade deles no presente como algo que objetiva confirmar a mensagem do evangelho.
           É prometido à igreja o poder no Espírito Santo de expulsar demônios, em nome de Jesus. A centralidade sempre é Cristo. O objetivo sempre é libertação para uma vida com Cristo. Em Atos há vários textos a respeito (5.16; 8.7; 16.16ss).
Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra. E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia; Pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. (Atos 8.4-7).

b) O que dizer dos supostos milagres que percebemos?

Será que em nossos dias o que vemos na TV em alguns supostos programas evangélicos realmente são milagres legítimos? Se sejam, será que estão sendo de fato realizados pelo Senhor? A demonstração de que realmente é o Espirito Santo que está realizando milagres deve está nos efeitos. Quem está sendo exaltado? A realização dos milagres tem servido para a proclamação do evangelho? Lembremos que hostes demoníacas podem também realizar milagres (2 Ts 2.9, 10).


CONCLUSÃO

Queremos sim estar sempre sendo uma igreja cheia do Espírito Santo, como a operação do Espírito Santo estará se manifestando em nosso meio está dentro da alçada de sua soberania. Nosso desejo não deve ser necessariamente ser uma igreja que realiza prodígios e sinais, mas com certeza devemos querer todos ser cheios do temor do Senhor.

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