Êxodo 20.14 - O Sétimo Mandamento




Introdução

Vivemos em uma época onde não será difícil encontrarmos pessoas que se dizem cristãs tentando relativizar a Palavra de Deus. Desse modo, para essas pessoas alguns mandamentos divinos perdem o seu peso. Certo pastor já se referiu ao mandamento em questão da seguinte forma: “Jesus não está preocupado com quem eu durmo, está preocupado se eu o amo”. Para aqueles que de fato aceitam a Bíblia como sua regra de fé e prática tal afirmativa será inaceitável. Que jamais relativizemos os mandamentos do Senhor, mas possamos vive-los em plenitude.
Os mandamentos expostos em Êxodo 20 têm de ser considerados em sua extensão com todo o conteúdo dos textos correlatos, o não adulterarás então vai além da mera traição conjugal.


I – O que proíbe o sétimo mandamento?

Como a proibição contida no sétimo mandamento é a proteção para uma vida pura no uso da sexualidade e da convivência conjugal como um todo, se faz necessário alistarmos algumas práticas que vão de encontro ao mandamento do Senhor.

a) Masturbação

Não é incomum a dúvida em algumas pessoas a respeito desse tema, principalmente entre os jovens. Poucas pessoas gostam de falar abertamente a respeito, causa constrangimento em alguns, mas é um assunto que não pode ser negligenciado. A dúvida para alguns é se masturbação de fato é pecado ou não. A resposta é positiva. E há razões biblicamente sustentáveis para afirmar desse modo, embora não haja textos bíblicos que falem claramente a respeito. No entanto, consideremos:
·        Na masturbação a sexualidade é desviada da relação “Eu – Tu” para a introversão e o egoísmo;
·        A fantasia sexual pode, e normalmente se torna algo incontrolável indo além dos limites pretendidos;
·        Pode se tornar um vício muito difícil de se desvencilhar.

b) Fornicação

Para a ética cristã, a fornicação é entendida como a atividade sexual entre pessoas heterossexuais fora do contexto conjugal. O texto de 1 Tessalonicensses 4.1-8 trata sobre essa questão.  O sentido de pornéia, “impureza” no v. 3 não é aquilo que entendemos em nossa sociedade como prostituição, ou seja, sexo em troca de dinheiro. O sentido aqui é de relações sexuais fora do contexto do casamento, sejam estas relações em ato de adultério, sejam elas anteriores ao matrimônio. O v. 7 enfatiza que Deus nos chamou para vivermos uma vida de santidade, inclusive na área sexual.

c) Adultério

Adultério é a quebra, alteração, falsificação de forma propositada e consciente do estado de amor puro entre pessoas que assumiram o matrimônio (REIFLER, 1992). Ou seja, o adultério é algo mais profundo do que o mero ato de relação sexual com outra pessoa fora do casamento. Este é referido na Bíblia como adultério corporal e muitos são os textos que mostram a gravidade em termos das consequências destrutivas para a vida do casal e para a comunhão com o Senhor. Em Jr 29.23 Deus chama tal prática de loucura.
No Novo Testamento Jesus fala do adultério mental: “Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela” (Mt 5.28).
Ninguém está isento de cometer este pecado, Tiago diz que somos tentados pela nossa cobiça, que dá a luz ao pecado (Tg 1.14-15).
O adultério é um pecado contra Deus. Lembremos que o casamento é uma instituição divina e símbolo da aliança de Deus conosco. “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” (Ef 5:31-32). Uma traição ao cônjuge é antes uma traição à Deus.
Era considerado algo tão sério que nos tempos veterotestamentário a penalidade para o adúltero era a morte: “Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera” (Lv 20:10).
O Adultério é um Pecado contra o Próximo.  É uma grande ofensa ao cônjuge e pecado contra o próximo de quem a Palavra diz que devemos amar. Algumas perguntas práticas para refletir a esse a respeito: como alguém pode dizer que ama ao próximo e destrói o seu casamento? Ou como ama o próximo desejando algo que lhe pertence? Ou como diz que ama o próximo e lhe faz pecar?
O adultério é um pecado contra a família. A família, enquanto instituição divina deveria ser em prática permanente, mas normalmente o resultado do adultério é o divórcio, uma exceção bíblica permitida, mas não a alternativa mais nobre, pois o ideal seria o perdão e restauração do casamento.

d) Poligamia

A poligamia, embora uma prática muito presente no mundo antigo veterotestamentário nunca teve a aprovação divina. O casamento instituído por Deus é monogâmico (Gn 2.21-24). A poligamia aparece pela primeira vez na linhagem de Cain, quando Lameque teve duas esposas (Gn 4.19). A Bíblia nunca autoriza a poligamia, apenas traz relatos de pessoas que viveram essa prática. Mesmo no A. T. há a proibição clara da poligamia: “E não tomarás com tua mulher outra, de sorte que lhe seja rival, descobrindo a sua nudez com ela durante sua vida” (Lv 18.18).

e) Divórcio

       A interpretação dos textos a esse respeito é muito controversa e complexa, mas a primeira dificuldade para a compreensão correta é entender o que de fato Jesus ensinou. As palavras do apóstolo Paulo são mais claras de serem compreendidas.
Em Mateus 5.31-32 encontramos que: aquele que repudiar a sua mulher dê-lhe carta de divórcio. E não se poderia casar com mulher divorciada. Aparentemente nesse texto o novo casamento está excluído. Contudo, observa-se que Jesus está falando para os homens judeus, sim, apenas para os elementos do sexo masculino que naquele contexto estavam vivendo uma facilitação da interpretação da Lei apregoada pelo rabino Hilel de que se poderia separar-se da esposa por qualquer motivo que o marido se desagradasse dela. Jesus é taxativo, mas por um motivo bem específico exigido pelo momento em que ele foi inquirido. Então, Jesus só admite o divórcio por causa relação sexual ilícita, ou seja, infidelidade conjugal. O ideal divino é o perdão e a reconciliação, observa-se que no texto trata-se de uma permissão, não de uma ordem de Jesus para o casal. A Bíblia diz que Deus odeia o divórcio (Ml 2.14-16). Mas, infelizmente nem sempre o ideal divino é a realidade vivida por nós pecadores. O que fazer então uma vez divorciados, permanecer sozinho(a) ou vivenciar um segundo casamento?
O segundo texto nessa questão é 1 Coríntios 7.10-12, apenas evitando a prolixidade, pois o assunto é muito extenso. Paulo diz de modo claro que uma vez separado não deve haver um segundo casamento, isto corrobora com as palavras de Jesus, que um segundo casamento é adultério. Duas observações: Primeira, Paula fala para um contexto diferente do de Jesus, no contexto paulino mulheres estavam se separando de seus maridos, influenciadas pela cultura greco-romana, Paulo está a combater a leviandade da separação por quaisquer motivos que não seja o permitido por Jesus, relações sexuais ilícitas. A segunda observação é quanto às palavras de Jesus em Mateus, a exceção apresentada por ele: “exceto em caso de relações sexuais ilícitas” é válida tanto para a primeira quanto para a segunda parte do versículo, ou seja, peca quem se separar sem ser por causa do adultério, e peca quem se casa novamente com alguém que se separou levianamente sem ter sido por causa de adultério. Assim, 1 Coríntios 7 permite novo casamento e não está contradizendo Mateus 5. Logo, quem se casa com alguém que se divorciou por razões legítimas não está pecando.
Considerando brevemente o texto de 1 Co 7:
V. 15 - Separação por incompatibilidade de fé, ou seja, quando o descrente não quer viver com o crente. Paulo diz que este não está mais sujeito a servidão, ou seja, está livre para casar novamente.
V. 28 – Paulo diz que na eventual situação de separado, quem casa novamente não peca.
V. 39 – Possibilidade de novo casamento diante da viuvez.
Concluímos que a vontade expressa do Senhor é que o casamento seja para toda a vida, e casamento em sua essência ordenada por Deus como fonte de alegria, felicidade, prazer, harmonia e aliança de propósitos em qualquer circunstância. Entretanto, somos pecadores, e eventualmente ocorrerá situação em que o divórcio é uma saída humana de uma situação de sofrimento. Para aqueles que receberam a graça do Senhor de permanecer sem casamento e assim escolher, conseguindo vivenciar santidade na vida apesar de sua condição de estar só, tudo bem, são pouquíssimos inclusive. Para a grande maioria prevalecem as necessidades humanas de companheirismo, sexo, ter filhos... Assim como os solteiros vivenciam essa realidade, os divorciados de igual modo. Seria muito sufocante para nós e fonte de grande sofrimento, angústia, tristeza, permanecer sozinhos contrariando nossos desejos e sentimentos. O jugo de Jesus não é pesado, é leve (Mt 11.28-30). O novo casamento não apenas é conveniente, mas é bíblico, haverá opiniões contrárias, mas que nosso coração possa estar em paz, sabendo que o Senhor é compassivo e conhecedor de nossos limites e necessidades.

i) Homossexualismo

Além de todos os textos proibitivos do Antigo Testamento, como Lv 18.22: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher: é abominação”; em Romanos 1.26 a 27 o apóstolo Paulo também é taxativo a esse respeito: “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro”. Paulo aqui rechaça o comportamento homossexual, mostrando que é contrário à natureza e o próprio procedimento em si já é um castigo de Deus em suas vidas. Entendamos que não há algo mais terrível para alguém do que o Senhor não usar de sua graça para não permitir que tal pessoa venha a ser dominado pelos mais terríveis pecados.

j) Perversões sexuais (masoquismos, sadismo, fetichismo, bestialidade, incesto, etc.)

A ética cristã também não pode admitir atos relativos à sexualidade que são em si mesmos uma perversão da sexualidade sadia.
Masoquismo – atitude de colocar-se em situação degradante por outra pessoa que inflige dores físicas. O masoquista sente prazer em sentir dor. Isso é antibíblico por ferir a dignidade humana como pessoa que é imagem e semelhança de Deus.
Sadismo – é o prazer sentido pela atitude de provocar dor a outras pessoas. Muitos sádicos usam o estupro para obter prazer sexual ou mesmo chegam ao assassinato. Alguns sádicos conseguem se relacionar com masoquistas produzindo uma relação sadomasoquista.
Fetichismo – é a obtenção de prazer por meio de objetos inanimados, como uma peça de roupas, etc. Também a fixação em um membro específico do corpo que não tem necessariamente conotação sexual como pé.
Bestialismo – trata-se de relação sexual com animais. O Antigo Testamento é bastante enfático quanto a proibir esse ato abominável: “Quem tiver coito com animal será morto” (Ex 22.19).
Incesto – relação sexual com um membro da família, parente consanguíneo ou afim. “Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para lhe descobrir a nudez. Eu sou o SENHOR.” (Lv 18.6).
Algumas práticas de perversão sexual também são transtornos psicológicos me como tais os indivíduos devem ser cuidados por profissionais adequados. Cabe à igreja condenar a prática, mas abraçar de forma amorosa quem sofre com os transtornos e querem a libertação.


II – O que podemos fazer para viver o sétimo mandamento?

De forma positiva o sétimo mandamento pode ser vivido sob quatro aspectos:

a) pureza sexual

A pergunta sobre as ações dos jovens no Salmo 119.9: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?” também é válida pra todos. A resposta igualmente: “Guardo no coração as tuas palavras para não pecar contra ti” (V.11). Para se ter pureza na vida sexual é necessário ter a mente renovada pela Palavra de Deus (Rm 12.1-2).  A impureza começa nos pensamentos e daí evolui para palavras e ações. Se nos inclinamos para a carne cogitaremos das coisas da carne, se para o Espírito, das coisas do Espírito (Rm 8.5).

b) Vivendo a bênção do matrimônio.

O casamento é visto como uma proteção contra uma vida lasciva. O sexo dentro do casamento é uma bênção de Deus e fonte de satisfação pessoal. “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4).

c) A opção celibatária

O celibato é a situação de por outro motivo ou por escolha a pessoa não contrai matrimônio.
Jesus falou abertamente sobre essa questão em Mt 19.12, pontuando:
a) “eunucos de nascença”; possivelmente pessoas com algum problema físico que impedem contrair matrimônio;
b) “outros a quem o homem o fizeram tais”; pessoas fisicamente castradas nas cortes do oriente;
c) “outros que assim mesmo se fizeram eunucos por causa do reino dos céus”; são aqueles que não desejaram casar para poder dedicar-se apenas ao Senhor. Isso é bíblico desde que não seja algo imposto por terceiros. É na verdade um dom dado por Deus (Mt 19.10 – 11; 1 Co 7.7).

d) A viuvez assumida

É meramente a decisão voluntária de continuar só depois da morte do cônjuge.


Conclusão

Que o SENHOR nos ajude para que como seus filhos, e como Sua igreja não estejamos sendo tolerantes com o pecado! Adultério é e sempre será pecado. Que sempre percebamos a gravidade dos atos, mas abracemos de modo misericordioso o pecador arrependido!


Bibliografia

ADAMS, Jay E. Casamento, divórcio e novo casamento: novo exame do que a Bíblia ensina. São Paulo, SP: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012.

DAMOSO, Leonardo. Casamento, divórcio e novo casamento - 2/3. Disponível em: https://bereianos.blogspot.com.br/2015/06/casamento-divorcio-e-novo-casamento-23.html. Acesso em: 01 jul 2016.


REIFLER, Hans Ulrich. A ética dos Dez mandamentos: um modelo da ética para os nossos dias. Ed. Vida Nova, São Paulo, 1992.

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