ÊXODO 20.15 - O OITAVO MANDAMENTO OU A PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE E DO TRABALHO

"Não furtarás".


INTRODUÇÃO

O ser humano tem algumas necessidades básicas comuns a todos: temos as necessidades fisiológicas como comida, água, sexo e sono; mas também temos outras necessidades. Possuir bens pessoais (roupas, dinheiro, etc) e sentir-se bem no trabalho que realiza são também necessidades humanas e traz um sentimento de autossatisfação. Tudo isso aproveitado de modo sensato é algo bom. O pecado está no ato de as pessoas distorcerem o sentido da satisfação de suas necessidades vivendo então de modo egoísta e desrespeitando o direito dos outros de igualmente sentir-se realizados.
O oitavo mandamento nos protege quanto ao direito humano individual de usufruir na relação com o outro aquilo que nos advém como dádiva divina para a vida: é uma proteção à propriedade individual.


I – O que proíbe o oitavo mandamento?

São muitos os textos bíblicos com relação a esse mandamento. No A. T. temos as proibições bem específicas a cerca de algumas modalidades de descumprimento desse mandamento. O negócio fraudulento (Ex 22.9); o uso de duas medidas, que era algo muito comum (Lv 19.35-37; Dt 25.13-16; Pv 11.1; 20.10;) o roubo de animais (Êx 22.1); o arrombamento de casas (Êx 22.2). No N. T. temos o contundente texto de Efésios 4.28: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado”.
Há também os exemplos de acontecimentos de roubos e suas consequências tristes. A Bíblia diz que Absalão furtava o coração do povo (2 Sm 15.6). Raquel roubou os ídolos domésticos da casa de seu pai (Gn 31.19, 30); Acã teve um fim trágico por conta de seu roubo (Jz 7.1-26). Os tempos de Oséias eram tempos de corrupção generalizada (Os 4.1, 2). Deus mesmo acusa o povo de roubo por serem sonegadores dos dízimos e ofertas (Ml 3.8).
Mas podemos definir roubo biblicamente como algo mais amplo do que meramente tirar alguma coisa física de alguém. Podemos citar como exemplo a exploração de preços por meio de cartel, adulteração de produtos, suborno, desvio de verbas públicas, plágio, ou seja, qualquer forma de desonestidade pessoal, comercial ou até governamental. O atraso do pagamento do trabalhador também é citado como roubo (LV 19.13; Dt 25.13-16).


II – Como podemos obedecer ao oitavo mandamento?

O Catecismo Maior de Westminster traz a pergunta 140: Quais os deveres exigidos no oitavo mandamento? A resposta é:
Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido; a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos; a doação e a concessão de empréstimo, livremente conforme as nossas forças e as necessidades de outrem; a moderação de nossos juízos, vontades e afetos em relação às riquezas deste mundo; o cuidado e empenho providentes em adquirir, guardar, usar e distribuir aqueles coisas que são necessárias e convenientes para o sustento de nossa natureza e que condizem com a nossa condição; o meio lícito de vida e a diligência no mesmo; a frugalidade; o impedimento de demandas forenses desnecessárias e fianças, ou outros compromissos semelhantes; e o esforço por todos os modos justos e lícitos para adquirir, preservar e adiantar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros como o nosso próprio.

Façamos apenas alguns destaques ao conteúdo exposto acima.

a) Honestidade comercial.

Espera-se de um filho de Deus, que diz viver na verdade e justiça, que de fato haja em suas relações sociais com honestidade em todos os momentos. Não deve então ser diferente com relação ao comércio. Assim, aquele que compra tem que pagar. Aquele que vende tem que entregar o seu produto conforme anunciado. Dentro desse aspecto da honestidade comercial está o não consumir produtos piratas, pois é roubo para com aqueles que legitimamente tem direitos aos lucros da produção. Também não se deve aderir ao plágio, ou seja, passar-se por legítimo autor de uma obra que não é sua.

b) O trabalho honesto

O trabalho é um mandato cultural na criação (Gn 1.27, 28). Deus ordenou ao homem cultivar e guardar a terra. Cultivar está arrolando as obrigações da exploração econômica de produção. Guardar diz respeito a preservar o meio ambiente, assim, o cristão tem a responsabilidade de ser defensor da ecologia. Deus não amaldiçoa no Éden o trabalho em si, mas a terra por causa do pecado.
Seja qual for o trabalho, contanto que em si mesmo não constitua ato pecaminoso, é bênção do Senhor. “Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem” (Sl 128. 1, 2).
Todos devem trabalhar.
Interessante que o mandamento acerca do descanso implica ordem a que todos trabalhem (Êx 34.21). O povo de Israel compreendeu bem isso, o preguiçoso não era bem visto na comunidade. Salomão aconselha: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio” (Pv 6.6). 
A esse respeito o apóstolo Paulo chega a dizer que “se alguém não quiser trabalhar, não coma também” (2 Ts 3.10). E ainda: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Efésios 4.28).
O trabalho traz satisfação
Trabalha-se para o autossustento e da família, esse é o principal motivo, mas o trabalho em si já é fonte de satisfação pessoal. Trabalhar no que se ama fazer é um prazer realizador. Não podemos desconsiderar que para muitas pessoas trabalhar é algo penoso. Há também situações degradantes referentes ao trabalho como a exploração de mão de obra barata, o trabalho escravo, etc. Vivemos em um mundo caído no pecado e tudo isso é consequência da realidade humana no pecado. Mas isto não muda o fato de que o trabalho foi estabelecido pelo Senhor e é fonte de realização pessoal.
O trabalho deve ser feito com sinceridade
“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl 3.23).
Para o cristão o trabalho é imbuído de um compromisso ético que não visa meramente relação de fidelidade com o outro (empregador, empregado, cliente, etc.), mas também a relação com Deus. A honestidade no trabalho, a dedicação e a sinceridade são qualidades que glorificam a Deus naquilo que Ele concedeu para realizar.
Os empregadores devem ser justos
Atrelado ao trabalho honesto está o dever por parte dos empregadores de exercer a justiça trabalhista, serem íntegros para com seus funcionários pagando salário digno e em dia (Dt 24.15; Ef 6.9; Cl 4.1). Paulo apresenta até uma razão escatológica para isso: o Senhor de todos é o mesmo e a Ele todos prestarão contas (Cl 4.1).

c) Alegrar-se com a providência divina.

“Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11-13).
Desse modo devemos viver em contentamento. Contente em Fp 4.11 é uma autossuficiência interior oposta à falta ou ao desejo das coisas materiais. Ou seja, não é o ter alguma coisa que irá ditar a alegria do cristão, mesmo na ausência de posses materiais é possível ao cristão estar em alegria e grato ao Senhor pelas dádivas já concedidas.
Contudo, lembremos que a Palavra condena a idolatria ao dinheiro, que leva as pessoas a outras formas de pecado como a injustiça, a luxúria, a opressão, etc. Tudo isso está expresso em Tiago 5.1-6. É essa atitude na vida que é condenável pelo Senhor Jesus ao dizer que muitos ricos não entrarão no reino dos céus, pois colocam o seu coração na riqueza. Mas o ser rico em si não é algo maligno, e aquele a quem o Senhor concede prosperidade pode usufruir de seus bens e devem ser instrumentos de Deus para abençoar outros.
O cristão então deve encontrar o equilíbrio ideal entre o ter e o ser. Ter bens sem ser arrogante e egoísta, mas sendo grato ao Senhor. Quando não tiver o que deseja, não ingrato por conta dessa falta.


Conclusão

1. Não é ter ou não ter coisas que garante a felicidade, mas viver o amor de Deus. Amar a Deus estar acima de tudo, e tudo podemos receber de suas mãos com gratidão.


2. Se Deus te fez ou fará prosperar nesse mundo, você não pode esquecer de ser generoso como instrumento de Deus para abençoar outros.  Se o Senhor te exaltar em algum momento na vida não permita que o orgulho roube o seu amor para com as pessoas. 

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