Malaquias 1.1-5 - Deus chama seu povo a uma audiência

Sermão nº 130, pregado no Templo Sede da Igreja Batista dos Guararapes, no dia 26 de outubro de 2014. Culto Solene.



Introdução

Os bons tempos haviam ficado para trás.
O tempo dos milagres tinha passado com Elias e Eliseu. O cativeiro babilônico era apenas uma amarga lembrança dos antepassados. As reformas feitas por Neemias já estavam caindo no esquecimento. A rotina das cerimônias religiosas era mantida, mas sem en-tusiasmo. Era um tempo de apatia e sonolência espiritual. Na verdade, tanto a liderança quanto o povo estavam vivendo uma espécie de torpor espiritual. (Lopes, 2010)
           Assim era a época de Malaquias, e a palavra do Senhor é dirigida ao seu povo sempre denunciando o seu contexto.


Elucidação

           Malaquias foi um profeta que viveu no quarto século antes de Cristo. Do hebraico Mal’aki, seu nome significa “Meu Mensageiro”.

 “Malaquias foi chamado a profetizar num dos momentos mais atribulados da história de Israel (Dn 9.25). Os judeus, que haviam retornado do exílio babilônico, enfrentavam as mais amargas e duras provações (Ed 1.1-11; Ne 1.1-11). Em consequência de seu sofrimento, começaram a duvidar do amor de Deus e a questionar-lhe a justiça. Não bastasse tamanho ceticismo, portavam-se relaxadamente quanto ao culto divino; davam-se às iniquidades; entregavam-se à opressão; [...] Para COMBATER  tais pecados, Deus comissiona o profeta Malaquias” (ANDRADE, 1999).

           O mais provável é que Malaquias tenha profetizado após os ministérios de Esdras e Neemias, pois eles não o citam, nem eles citam Malaquias. E também pela condição espiritual do povo, que não combina com a época da eficaz liderança daqueles homens. Portanto, Malaquias profetiza em um momento de distanciamento espiritual do povo, o avivamento experimentado na época de Esdras e Neemias já sofrera um declínio.
           O livro foi escrito entre os anos 430 a 420 a. C. A forma literária em muitos versículos é muito interessante, em um estilo de confronto é apresentado uma afirmação, seguido de uma interrogação e depois uma refutação. Isto está presente em muitos versículos (1:2; 1:6; 1:7; 2:14; 2:17; 3:7; 3:8; 3:13).

Observe o v. 2: “Eu vos tenho amado” – afirmação;
“Em que nos tem amado?” – interrogação;
“Não foi Esaú irmão de Jacó [...] todavia, amei a Jacó”. - refutação
           Do começo ao seu fim este livro é apelo ou chamado do Senhor ao seu povo para que se arrependa e voltem a Ele (1:6; 2:10; 3:7; 3:10; 4:4).



I – A iniciativa divina de falar com o seu povo, v.1.

           O livro de Malaquias se inicia delineando o tipo de mensagem que viria a ser proferida. A primeira palavra, que no hebraico é “masã” recebe a tradução na ARA de “sentença”, na NVI é traduzida por “uma advertência” e na ARC é traduzida como “peso”. E é exatamente essa última tradução que se aproxima melhor da essência da profecia de Malaquias. A palavra a ser transmitida por ele era um peso. Um peso para ele, uma palavra difícil de ser transmitida; um peso para o povo, pois certamente não era fácil ouvir o que necessitavam ouvir e um peso para Deus, pois o Senhor não tem prazer em repreender os seus filhos, mas em que eles andem na justiça.
           Neste texto, podemos afirmar que por mais duro que possa ter sido o Senhor em suas palavras contra o povo, é nada menos do que uma demonstração de seu cuidado, de sua graça, de seu amor. O povo estava sendo insincero e ingrato, e a forma que o Senhor utiliza para que eles possam despertar de seu cinismo espiritual eram palavras duras de julgamento por intermédio de seu profeta.
           Ao refletirmos a sentença contra o povo por intermédio de Malaquias, algo que devemos nos perguntar é: qual é a centralidade daquilo que o Senhor quer falar ao seu povo em nossa época no contexto de igreja no Brasil?
           Afirmo desde já que nossa época, assim como na de Malaquias se faz altamente necessária uma palavra de correção. Assim como o Senhor falou com o seu povo por intermédio de Malaquias fala com a sua igreja hoje por meio da pregação da Palavra: a mensagem é de arrependimento, de confissão, de busca pela santificação, de apego à sua verdade e assim por diante.
           Observe que a mensagem que Malaquias transmite não é sua mensagem. Aquele que anuncia a Palavra não deve anunciar o que quer, mas o que o Senhor lhe ordena. A autoridade da mensagem não está no pregador, mas no dono da mensagem.
           A palavra de juízo da parte do Senhor antes de ser contra as nações pagãs era contra Israel. Israel se alegrava quando o Senhor falava em juízo contra nações ímpias, mas o Senhor inicia o juízo pelos seus.
           Mas embora a palavra do Senhor vá ser de repreensão, ele inicia falando a respeito de seu amor para com o povo.


II – O amor do Senhor para com o seu povo, v.2.

           O Senhor afirma seu amor para com o seu povo, mas denuncia que eles não estão reconhecendo este amor: “Em que nos amaste?”. Essa pergunta com sutil acusação de ausência de amor é refutada pelo Senhor trazendo à memória deles Esaú e Jacó. Esaú, embora gêmeo de Jacó foi dado à luz primeiro e desse modo deveria ser o primogênito, o herdeiro de todas as bênção e líder da família da aliança, no entanto, o Senhor diz que escolheu a Jacó, e em Rm 9.14 é explicado que não há injustiça da parte do Senhor em agir desse modo, pois ele escolhe a quem quer e tem misericórdia de quem lhe apraz ter misericórdia. Desse modo, ao relembrar Jacó o Senhor está lhes dizendo que o seu amor é livre, é eletivo, ele os escolheu, mas o fez livremente e graciosamente.
           O Senhor Jesus diz o mesmo para nós: “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15:16). Deus nos amou e nos elegeu em Cristo Jesus. E porquê nos elegeu? Não é porque viu que iríamos crer, a fé não é a causa da eleição, mas consequência: “... e creram todos os que haviam sido destinados para vida eterna” (At 13.38). Nos elegeu não por ter visto em nós boas obras. Fomos eleitos para as boas obras e não por causa delas: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Não por ter visto em nós santidade, mas por causa da santidade (Ef 1.4); não por ver em nós obediência, mas para que fôssemos obedientes (1 Pe 1.2).
           A eleição do Senhor em nossa vida é uma grande demonstração de seu amor. Este amor que é paciente. A Bíblia diz que Deus amou Jacó. E qual era o caráter de Jacó? Seu nome significa enganador. Ele enganou seu pai, enganou seu irmão, depois que saiu da casa de seu pai, foi enganado e também enganou seu sogro. O Senhor foi tão longânimo com ele.
           De igual modo o Senhor age conosco. Quantos de nós estamos a merecer seu castigo, sua severidade, e ele tem agido com paciência. Em demonstração do seu amor tem nos falado, tem nos repreendido, tem chamado à correção.
           Além de ficar claro o aspecto da eleição quando ele fala no texto sobre seu amor, também deve ser percebido a continuidade desse amor. A expressão mais correta não é “eu vos amei” (ARC), mas “Eu vos tenho amado” (ARA), pois a ideia é de continuidade. Ou seja, o amor do Senhor sempre esteve presente. Eles foram eleitos por Deus, embora tenham se distanciado do Senhor e sido levados para o cativeiro na Babilônia, foram trazidos de volta à sua terra; em toda essa história está presente o amor do Senhor para com eles. Em Jeremias 31.3 diz que o amor do Senhor é eterno. “Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei; também com amável benignidade te atraí”.
           O mesmo é verdade para nós, Sua igreja. Deus prova o seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós pecadores (Rm 5:8). O Senhor ama sua igreja de forma contínua, apesar de seus erros, de suas debilidades e de seus pecados.
           O amor do Senhor para contigo não será abalado por conta de teus pecados, ele continuará te amando, apesar de você ser como é!
           Mas o v.2 também nos mostra a ingratidão daquele povo. Puseram em dúvida o amor do Senhor para com eles, mesmo havendo tantas demonstrações em sua história. E onde estiver presente a dúvida do amor de Deus estará presente todo tipo de pecado. Eles estavam insensíveis ao amor do Senhor; e isso produz dúvida, impiedade e relaxamento moral. Não conseguiam enxergar mais a providência divina, deixaram de ouvir a Palavra de Deus, sentiram-se injustiçados diante da disciplina.
           Ao contrário deles, que possamos lembrar todas as bênçãos em Cristo Jesus, e fujamos da ingratidão.


III – A justiça do Senhor para os não eleitos, v.3 e 4.

           Deus faz referência a Esaú, que tinha um caráter profano, ou seja, não valorizava aquilo que tinha valor primário, não valorizava as coisas de Deus. Vemos como em Gn 25.34 ele desprezou o seu direito de primogenitura trocando-o por um prato de comida. Hb 12.16 nos adverte a jamais agirmos como ele, não sermos impuros ou profanos. Os descendentes de Esaú, os edomitas, imitaram o seu caráter ímpio e agiram de modo perverso contra o povo eleito do Senhor. Associaram-se com a Babilônia para matar o povo de Deus (Ob 10-14; Jl 3:19; Sl 137:7). Saquearam Jerusalém junto com os caldeus, conforme os v. 11 e 13 de Obadias. Mas o Senhor em sua justiça fez o mesmo que mal caísse sobre eles. Foram saqueados pelos nabateus (árabes) logo depois do cativeiro babilônico conforme profetizado por Obadias (v.15, 18, 21). De modo prático o senhor os ensinou que quem se levanta contra o seu povo cedo ou tarde sofrerá as devidas consequências de Sua santa justiça. O texto é enfático, o Senhor não permitiria prosperidade para eles. Não os restauraria. Que contraponto com os israelitas, que pecaram, mas foram restaurados pelo Senhor.
           A razão de o Senhor exemplificar a sua recusa aos descendentes de Esaú, de aqui fazer menção de sua justiça é para que o seu povo esteja mais uma vez entendendo a oportunidade de perceber o quanto é agraciado. Nesta maravilhosa audiência eles ficam sem desculpas diante do Senhor, pois embora tenham vivido seus momentos de consequência de seus pecados, embora tenham experimentado a justiça divina em suas vidas, muito recentemente haviam vivenciado a maravilhosa restauração que o Senhor operou na vida de seu povo.
           Que refletir na justiça do Senhor possa te levar a uma gratidão pelo livramento dessa justiça.
           Além de tudo isto o texto nos mostra que eles reconheceriam que grande é o Senhor em toda a terra.


IV – A grandeza do Senhor em toda a terra, v.5.

           A grandeza de Deus está manifestada neste texto ao revelar que Ele elegeu o seu povo, o protegeu, o disciplinou e o restaurou. E Israel teria aprendido muito mais do senhor se não tivesse agido com arrogância como se o Senhor fosse o seu Deus tribal. Ele é o Senhor de todo o universo. Ele é o Senhor da igreja e o Senhor de todo o mundo. É ele quem julga as nações. Quem eleva presidentes e derruba presidentes. E assim como Israel deveria ter feito, nós devemos ver e anunciar a grandeza de Deus em toda a terra.


Aplicações

1. Neste texto que apresenta a soberania divina, também está embutido a responsabilidade humana e as consequências do uso dessa liberdade de escolha. O que você escolhe para sua vida hoje? O peso da glória divina ou da sua ira? Seja qual for a sua escolha a reação do Senhor a ela será uma manifestação de Seu amor para com você, até mesmo se ele agir em ira: “De todas as famílias da terra somente a vós outros vos escolhi, portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades” (Am 3:2).

2. A ingratidão não anula amor do Senhor, mas o ofende, analisemos nosso coração, sejamos mais gratos a Ele, pois Ele muito nos tem amado!

3. A história de Esaú deve nos fazer refletir que muitas vezes embora possamos ser perdoados pelo senhor sofreremos as consequências de nossos pecados. Cuidado com suas decisões. Não escolha algo apenas porque pode lhe trazer benefício imediato, analise as consequência a longo prazo. E cuidado para não desprezar o que hoje você tem de mais importante.

4. O poder do homem não pode jamais reverter a sentença divina. Quando ele derruba nenhum homem pode edificar, quando Ele edifica nenhum homem pode derrubar.

5. Ainda que Deus não seja glorificado em sua vida nesta existência, mas o será na eternidade. Em última instância Deus é glorificado seja na salvação dos eleitos ou na condenação dos ímpios. Tanto o céu quanto o inferno devem manifestar a glória de Deus.


Conclusão


           Gostaria que você fosse para casa refletindo sobre tudo o que o Senhor  tem falado, antes que ele te chame para uma audiência, antes que chame sua igreja a uma prestação de contas. 

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