Gênesis 12.1-9 O chamado de Deus na vida da Abraão


Introdução

           Abraão ganhou o título de pai da fé devido sua atitude de confiança plena na promessa divina. Se fosse para ser colocado um título a você, qual seria? O que denotaria, algo positivo ou negativo? Seria: fulano, o obediente ou o desobediente, o que tem fé a despeito das circunstâncias ou o inconstante? O perseverante ou o que desiste da caminhada? 
           Observe a história de Abraão e perceba como ela é rica em ensinamentos. 
Elucidação
           A história de Abraão inicia-se aqui no capítulo 12 quando ele ainda se chamava Abrão. Ocorre aqui um novo gênesi, um novo começo, um divisor de águas. Esta história é importantíssima para se compreender o plano de salvação do Senhor. Abrão foi chamado por Deus, o Senhor lhe fez promessas e ele viveu uma vida pela fé. A partir desse texto e nos seguintes veremos essa extraordinária jornada de fé desse homem.


I - Deus chama Abrão de maneira a exigir fé, v. 1-3.

           v. 1 Deus chama Abrão, e não lhe dá detalhes de como as coisas seriam, simplesmente diz para ele sair em obediência.
           Abrão é um dos descendentes de Sem, e é filho de Tera, a primeira referência a ele está no cap. 11 v. 27. Eram habitantes da região da Caldéia, e portanto, estava ele influenciado também pela idolatria que prevalecia em sua época naquela região. No cap. 12 vemos que o Senhor se revela a ele. O texto diz: "Disse IAVÉ a Abrão"; o nome de Deus utilizado aqui é aquele que na revelação bíblica traz a ênfase para o Deus que se relaciona com suas criaturas. É o nome pactual de Deus, no qual o Senhor se revela quando estabelece um pacto. Esse Deus chama para um relacionamento, e o modo que caracteriza esse chamado é uma vida pela fé. Abrão deve ir para uma terra que não sabe qual é. Juntamente com sua família irá iniciar uma vida nova, uma jornada difícil. O Senhor não detalha onde seria o lugar de sua habitação, não lhe dá garantias aqui de como será a sua peregrinação, apenas é exigido dele a obediência. Ele deve confiar no Deus que o chamou. 
           Há algumas similaridades da vivência pactual da igreja do Senhor com o que ocorreu com Abrão. Também fomos chamados para uma jornada na fé: e por isso diz a palavra: "Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele" (Hebreus 10:38); e: "Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé". (Romanos 1:17). Sendo assim, confiamos e devemos confiar plenamente no Senhor em nossa caminhada. E esta confiança diz respeito às dificuldades da trajetória espiritual bem como à certeza do destino. Abrão iniciou a jornada para uma terra física, que ele ainda não conhecia, ao mesmo tempo em que cria em um descanso eterno, por isso ficou conhecido como o pai da fé. Quanto a nós, sabemos que chegaremos à uma Canaã celestial, pois quem garante é aquele que cumpre com sua aliança que estabeleceu na pessoa de seu Filho.      
           v. 2 Deus estabelece com ele uma aliança. Ao contrário do que pode parecer em uma rápida leitura, esta aliança estabelecida pelo Senhor é de característica unilateral, não é condicionada à resposta de Abrão como a aliança estabelecida com Adão. O Senhor apenas diz o que irá fazer e a expressão final do versículo: "Sê tu uma bênção"! tem na realidade uma conotação de que Iavé estaria fazendo dele uma bênção. Não se trata de uma exigência de Deus para que a aliança pudesse ser efetuada.
           Deus chama Abrão com promessas de bênçãos, v. 3. A bênção para Abrão e sua família é a bênção para todas as nações, é a bênção que deve ser recebida em fé. As bênçãos aqui prometidas é a salvação dos gentios. Veja Gl 3.8: "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abrão: Em ti serão abençoados todos os povos". Portanto, a aliança de Deus com Abrão contrasta com a Aliança do Sinai, que exigia obras, a aliança abraâmica exige fé, confiança na promessa divina. Desse modo devem aqui serem excluídas aquelas interpretações equivocadas presentes em algumas canções e em algumas igrejas judaizantes adeptas do materialismo "cristão" dos nossos dias. Então não faz sentido cantar "onde pisar a planta do teu pé Deus te abençoará", e "todas as bênçãos prometidas a Abraão te alcançarão", ou alguma coisa semelhante. A promessa foi feita a Abrão, e a bênção já nos alcançou, é a salvação em Cristo, em quem as promessa a Abrão foram cumpridas. Por isso que os verdadeiros filhos de Abrão são aqueles que vivem em fé: "Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão" (Gálatas 3:7).
            Pela fé já recebemos o melhor de Deus para nossas vidas. Mas atentemos agora ao que o texto revela acerca da reação de Abrão.


II - Abrão responde ao chamado com prontidão, v. 4-6.

           Com toda a sua família, com todos os seus bens ele parte para aquela jornada. A obediência dele é admirável. Ele não faz à Deus um interrogatório de como as coisas seriam a partir daquele momento. Ele não pede uma confirmação. Ele obedece prontamente. A verdadeira fé leva à obediência, ela não é inativa, não é inoperante. Tiago ao ensinar sobre fé afirma: "Meus irmãos, qual o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé slavá-lo?" (Tg 2.14). Em seguida ele cita exemplos práticos para mostrar que a verdadeira fé é aquela que se expressa por atitudes práticas de amor. 
           A verdadeira fé nos faz obedecer a despeito das evidências e também a despeito das consequências. Porque somos salvos, cremos em Deus e em Sua Palavra, devemos ser instrumentos da providência divina para abençoar outros e isto de modo independente da gratidão ou recompensa que nos darão.
          Abrão partiu, obedeceu, iniciou sua jornada, mas se você for ler toda sua história perceberá seus tropeços. Nos versículos 10 a 20 encontra-se o relato de uma estadia de Abrão no Egito. Naquele lugar ele mentiu a respeito de Sarai dizendo que ela não era sua esposa, com medo que o matassem para ficarem com ela. No capítulo 16 vemos que ele toma Agar como mulher, não esperando pelo cumprimento da promessa divina. Os dois episódios mostram a falta de confiança de Abrão no Senhor. Aprendemos disso que assim como ocorreu com ele, a nossa fé também é imperfeita, em muitos momentos em nossas vidas poderemos estar demonstrando falta de confiança no Senhor, no entanto, é necessário, que assim como ocorreu com Abrão, mesmo com uma fé imperfeita, haja uma prontidão para obediência ao chamado divino. Continue caminhando, mesmo sabendo das suas muitas falhas!
           Apenas obedeça, e este obedecer aqui diz respeito a prosseguir caminhando, haverão os tropeços,  mas continue caminhando.


III - Abrão responde ao chamado como adorador, v. 7-9.

           Deus renova a sua palavra de aliança para com o seu servo. Certamente que a Bíblia não nos traz todos os detalhes sobre a jornada de Abrão, mas já podemos perceber que não foi algo fácil. No entanto, o Senhor veio a Ele para lhe falar fortalecendo sua fé. Assim é em nossa caminhada, Sua Palavra reanima-nos, não nos deixa esquecer suas benevolentes promessas. Sem que nos alimentemos da Palavra não poderemos ter sucesso em nossa caminhada. 
           E a reação de Abrão diante da presença divina é de edificar a ele um altar, ou seja, de adorar à Deus. O caminhante tem de ser um adorador. Tem de ser alguém que vive as realidades da peregrinação sem perder a perspectiva daquilo que é eterno. Perceba que ele no v. 8 arma a sua tenda e constrói um altar. A tenda é símbolo para a peregrinação, ele estava totalmente cônscio de que era peregrino nesta terra. Mas ao mesmo tempo o altar é símbolo do que é celestial. Enquanto caminha tem a esperança de um descanso que não é terreno. Enquanto caminha vive em adoração. 
           Assim devemos ser nós, peregrinos, sabedores de que vivemos neste mundo, mas que ele não nos limita. Temos o alvo eterno, temos a morada eterna, e enquanto caminhamos vivemos em adoração, pois sabemos de nosso destino. Sejam quais forem as dificuldades da jornada, lembremos que o Senhor chama adoradores que o adorem em espírito e em verdade: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espirito e em verdade" (Jo 4.24). O verdadeiro adorador não está limitado pelo espaço físico, pela situação propícia; transpõe as barreiras das limitações físicas. A sua vida é adoração, independentemente do lugar. Também viverá essa adoração nos momentos bons da vida e nos momentos difíceis, estar prostrado diante do Senhor é o estado de constância do verdadeiro adorador. Você foi chamado por Deus para viver em adoração!
           A vida de Abrão é uma grande lição para todos nós.


Aplicação

1. Foi Deus que te chamou, Ele estabeleceu uma aliança contigo. Que resposta tens dado a este compromisso? Estás tu sendo uma bênção?

2. Confie no Senhor, ele conduz sua vida para propósitos santos. Em nossa peregrinação às vezes podemos não entender de imediato os propósitos divinos, isso pode nos trazer um certo desconforto, queremos ter a segurança de que temos algum controle sobre o que acontece em nossas vidas, ainda que essa segurança seja ilusória. Mas confie, o Senhor sabe o que faz!

3. A obediência conduz à bênção divina. Tantos cristãos querem ser abençoados, mas esquecem que o mais importante não é a bênção que o Senhor pode nos conceder, mas a obediência que o Espírito Santo lhe capacita a lhe prestar.

4. Você é um peregrino, não invista apenas nesta terra, que você à semelhança de Abrão possa estar com os olhos fitos na cidade celestial.

5. Que você seja um adorador constante, mesmo nos momentos mais difíceis.


Conclusão

           Que você possa ter uma fé firme no Senhor, embora imperfeita, mas que esteja em crescimento. Que possa ter uma prontidão na obediência, embora que na caminhada muitas vezes haja um retrocesso, mas que sempre siga avante. Que possa ser um adorador constante, ainda que às vezes não grato o suficiente, não tão espiritual quanto gostaria, mas ainda sim um adorador. 




*Sermão pregado pelo Pr. Rivaldo Constantino dos Santos, na Igreja Batista dos Guararapes, no culto da Escola Bíblica Dominical do dia 19 de janeiro de 2014.

Postar um comentário

0 Comentários